Melancholia, here I go again [My my, how can I resist you?]
O filme é mais legal que o livro...
No que se refere ao videoclipe, a referência à fetichização pornográfica do outro é clara: as imagens são super-tratadas, estranguladas no tempo pra permitir o olhar fixo. Privadas de toda banalidade pra terem um efeito imediato de propaganda de perfume. Porém, a mensagem que as cenas articulam diante de nós é bem negativa: e vai à base do nosso modo de vida e de suas formas de reprodução.
Na primeira tomada temos o rosto de Justine com aparência doentia e apática, enquanto pássaros mortos começam a chover ao fundo: essa cena está para o quadro de depressão profunda que se segue ao fracasso do casamento da personagem: pássaros caindo mortos em pleno no vôo é uma imagem recorrente pra simbolizar uma perda irreparável: a descrição que Freud faz do melancólico é de alguém que teima em antecipar o sofrimento da perda do objeto: que trata o objeto de desejo como já perdido enquanto ele ainda está presente [“mourning in advance, mourning for something which is still here”].
Como vamos descobrir depois, Justine engaja em uma série de frustrações durante o ritual de seu casamento, que funcionam como uma espécie de fuga pela auto-sabotagem. A cilada da qual a noiva quer escapar [à custa do surto depressivo] vem inscrita no modo de ser das demais personagens. Principalmente nas relações de sua irmã Claire: dividida entre ser condutora de rituais da vida rica; e a mãe infantilizada pelo marido e infantilizadora do filho.
brigado E.
Essa casa não é miiinha...
Na seqüência, temos uma imagem do jardim da mansão onde se passa a história: a fotografia é ultra-estilizada: apaga a banalidade de um lugar cafona pra mostrá-lo como mercadoria vendável [nos moldes da indústria da propaganda, que busca a valorização de objetos para o lucro]. Caminhando na direção do relógio solar, no centro da cena, temos uma figura que parece uma das mulheres. Detalhe para a sombra dupla dos objetos, que recebem luz do sol e do planeta que se aproxima.
Riders on the snow
Em seguida aparece a tela de Pieter Bruegel “Caçadores na neve”, que se desfaz numa chuva de cinzas. Bruegel foi um pintor flamenco nascido em 1530, conhecido por retratar a vida popular e as paisagens de seu tempo: isso numa época em que cenas bíblicas, históricas ou retratos de nobres faziam o grosso da produção artística. A aparição dessa tela faz referência ao filme “Mirror”, do diretor Tarkovsky, em que essa mesma obra de Breugel também aparece: nessa fita, parcialmente autobiográfica, Tarkovsky retrata o que teria sido a juventude de sua mãe, seu próprio presente, e sua infância, oscilando os pontos de vista do filho, do ex-marido, da ex-esposa, e da mãe. Que a tela se desfaça em chamas no filme Melancholia parece apontar pra certo desgaste do realismo como forma. Talvez porque o realismo só poderia apresentar as contradições do presente como um tipo de telejornal, e essa aproximação já não surte efeito crítico num público calejado e insensível às notícias da barbárie pelo mundo.
Ou ainda: representaria um desgaste num modo de fazer cinema baseado na vida pessoal dos diretores, como fizeram Tarkovsky nesse filme Mirror ou Bergman em “Cenas de um casamento”. Claro que também poderíamos pensar no meio em que Bruegel viveu [convulsionado por revoluções religiosas, numa escalada de terror e obscurantismo] e entender o tipo de pressão que o diretor [que nunca pôs os pés nos EUA...] está fazendo alusão. Diz-se que em seu leito de morte, Bruegel pediu que algumas de suas pinturas fossem destruídas, pra poupar sua família de futuras perseguições políticas...
Os astros indicam mudanças pra você num futuro próximo...
Em seguida temos o planeta Melancholia, ou a Terra, contra um corpo celeste vermelho de fundo. Mais adiante teremos outras “danças” entre os dois planetas, que vão se chocar ao final, no que nós entendemos como a Terra encontrando a si mesma no abismo. Aliás, aqui o elemento de fantasia absurda, [um planeta-espelho que surge de detrás do sol e traça uma rota pra nos atingir] serve pra mascarar as catástrofes óbvias que ameaçam nossa existência hoje. Mas, sobretudo, as catástrofes políticas e econômicas, que muito antes do que secas ou terremotos podem levar um lugar à ruína total... Não é estranho que, mesmo diante de um possível fim do mundo, lá pelo final do filme, continuem todos tranqüilos e isolados na casa-grande? Se algo como essa tragédia realmente ameaçasse a Terra, nós teríamos o caos total com quebra-quebra, arrastões, especulações em cima de preços, repressão irrestrita das forças policiais, etc. A fita contorna essas questões ao deixar todas as informações relevantes com o marido cínico de Claire, que também luta por se enganar. Sim, o maridão Jack Bauer, que tortura todo mundo pra salvar o mundo, é aquele que sustenta a encenação do “tudo vai bem”, ao que a esposa está disposta a acreditar e se submeter.
Esse marido ideal é provedor de segurança e ignorância [little father], dono do cavalo Abraão, ligado ao filho e às posses: ele deve ser entendido com relação ao pai obsceno de Justine; com o chefe [obsceno] da noiva publicitária; com o futuro marido careta e sem espírito; com o agregado sem talento do chefe, que ela transa no campo de golfe; e até (principalmente) com o sobrinho, que por não ter assumido ainda a caracterização viciosa dos outros personagens masculinos, se liga à “tia quebra aço” [aunt steelbreaker], solteira por opção (decepção), com quem ele sonha construir as cavernas [abrigo anti-artilharia, bankers, comunidade fundamentalista, núcleo familiar?] do futuro incerto. Um mundo em que as pessoas vão perdendo o desejo mesmo de assumir certos papéis sociais, mas que o fazem mesmo assim, num esforço de auto-convencimento e [ou] pra atender demandas externas. [They know what they’re doing, but they’re doing it anyway…].
Uma negra e uma criança nos braços,
Solitária na floresta de concreto e aço...
A cena seguinte mostra Claire correndo no campo de golfe com o filho nos braços, enquanto os pés dela afundam no chão: o mesmo diagnóstico se aplica às duas irmãs, enredadas num quadro de depressão e [ou] apatia, que aparece extravasado nas imagens. O filho nos braços, carregado num campo movediço, representaria um casamento desgastado, lutando pra se manter [de um lado a esposa-mãe, de outro o marido-filho]. Se notarmos a bandeira que marca o local do buraco no campo de golfe, veremos que primeiro ela mostra o número 12 e em seguida muda pra 19. Lá pelas tantas no filme, o marido de Claire diz que existem apenas 18 buracos num campo de golfe, o que faz desse ‘19°’ buraco uma espécie de aberração, de prolongamento artificial. A metáfora se aplicaria tanto à crise num casamento [com o pai que abandona a família], quanto pra vida no planeta, fraturada por instabilidades econômicas e naturais; enquanto se reproduz à custa de um modelo excludente, poluente, concentrador e à beira do colapso.
Of course my horse
[mas quanto tempo ele agüenta sem comer?]
Depois vemos o cavalo Abraão, encilhado e sozinho no campo, cair sobre as patas traseiras sem razão aparente. Essa ‘queda do desejo’ fundamenta o modo de ser das personagens todas: o marido arrogante e insensível, o filho apático e sem iniciativa, a dona de casa ritualística e superficial, a deprimida negativa e anti-social, etc. Como é o modelo familiar patriarcal tradicional que está em cheque [xeque...], a queda de um cavalo que se chama Abraão não precisa muita explicação: pois esse modelo bíblico é fundamento e origem da família autoritária tradicional [ainda que nesse cenário de fim do mundo, esse modelo mesmo é que se vê a ponto de desaparecer, deixando no seu lugar um vazio perigoso...].
Jesus don’t want me for a sunbeam
Segue-se a cena de Justine de braços abertos contra uma floresta, rodeada de insetos noturnos. Como o cavalo Abraão encilhado e perdido [lembrem-se que ele se recusa a cruzar a ponte, o que obriga a moça a surrá-lo, mas sem sucesso, pois Abraão não pode passar pra ‘nova fase’...], aqui temos uma espécie de Cristo mulher na figura da atriz. O sacrifício performático de Cristo, que inaugurou uma nova fase do pensamento ocidental [assim como a unidade do povo judeu por meio da tradição inaugurada pelo patriarca Abraão]; agora encontra sua forma desgastada nas mulheres idealizadas do mundo do cinema. Lembremos que são esses filmes americanos que dão forma à individualidade dos expectadores ao redor do mundo. É muito comum que as pessoas sintam prazer em pensar na própria vida como um filme, como se a narrativização de seus atos justificasse pra elas mesmas o porquê de suas escolhas e atitudes. Isso num tempo em que essa narrativa da vida, com fotos e vídeos e textos por toda parte, saturam nossa existência por meio de uma exposição excessiva e pornográfica das alegrias e tristezas de cada um. Assim, na modernidade, o Cristo exemplar, com sua tragédia de luta e submissão ao destino, é substituído pela vida das vedetes do cinema e outros famosos. Ainda que esses famosos não possam cumprir esse papel senão tragicamente também, revelando as incongruências e contradições inerentes à existência de todos nós [vide as separações, espancamentos, processos e troca de humilhações entre a gente rica e famosa].
Uma cena que conversa com essa postura ‘Cristo Redentor’, ou estrela internacional, da atriz, é aquela em que a Justine sai de casa de madrugada e é seguida pela irmã, que a flagra nua, tomando um ‘banho de lua’ sob a luz do planeta que se aproxima. Não seria essa a imagem de uma atriz famosa que expõe [ou vê exposta] sua nudez ‘diante do planeta todo’? Cuja vida é observada, discutida e banalizada numa exposição instantânea e global através dos meios de comunicação? Dá pra dizer que uma das formas desse planeta Melancholia seja a própria internet, que como as conseqüências reais de uma hecatombe mundial, vai ocultada no filme de propósito, aparecendo apenas pra dar informações parciais e desencontradas.
Well, I like her too. I know she likes you
Eu ainda não tenho vergonha do meu passado comunista...
Mais uma vez aparecem os planetas em contraste: a partir daqui eles têm uma desproporção enorme entre si, quase como se o mundo novo fosse absorver o antigo. Nos conta Wilhelm Reich, no seu The Sexual Revolution que nos primórdios da Revolução Russa, na União Soviética [U.S.], a desapropriação dos meios de produção e a reorganização da sociedade em coletivos, quase fez desaparecer as famílias na Rússia. Aparentemente num lugar sem propriedade privada, ou a figura de um pai provedor, o modo de vida familiar tradicional não tinha mais sustentação e tendia a desaparecer. Foi então também que se aplicou a legislação mais avançada do mundo na época, que igualava homens e mulheres em direitos, além de tirar dos ombros delas o fardo de criar as crianças sozinhas, afastadas das atividades produtivas e sociais. Houve também uma democratização dos métodos contraceptivos, e mesmo o aborto foi legalizado e disponibilizado às todas pelo estado.
Porém com a ascensão de Stalin, ou mesmo antes disso, esse modelo libertário começou a ser “corrigido”, e a idéia de família tradicional voltou a ser imposta através de uma legislação retrógrada; e da supressão da sexualidade dos jovens por meio de propaganda reacionária e sexualmente conservadora [na verdade foi mais complicado que isso: fica a sugestão da leitura...]. Nas palavras do autor: Uma sociedade autoritária e patriarcal precisa, necessariamente, preservar o casamento. Isso porque a instituição está fundamentada em raízes econômicas.
Mas então o que acontece com esse filme, que entrega a falta de energia com que as pessoas encaram o casamento hoje em dia? Por que mesmo as pessoas mais ansiosas e engajadas têm de lidar com certa “incerteza” quanto ao futuro? Ou mesmo com a falta de vontade [melancolia] de se ligar a alguém jurídica e sexualmente dessa forma?...
No family life, this makes me feel uneasy…
Parece que o mesmo que se passou na União Soviética pós-revolucionária está se passando conosco, nos dias de hoje [que vivemos algo que Zizek e Badiou chamaram de ‘comunismo liberal’]: se pensarmos bem, a vida amorosa e profissional recompensa aqueles que podem se dedicar a suas atividades sem estar atrelados a outras pessoas nos termos de um casamento ou maternidade [e paternidade, guardadas as proporções]. No filme, Justine é assediada por seu chefe em plena na festa de matrimônio: uma lembrança constante de que as relações de dependência [o futuro marido com seu “pedaço de terra”, o cunhado rico, o chefe desprezível e, emocionalmente, mesmo o pai, que ela queria que ficasse...] são uma ameaça à sua individualidade, e já não a seduzem como ela gostaria. E aqui podemos pensar no cavalo que não cruza a ponte, no carro que é grande demais pra estrada, no menino que oferece uma adaga de presente à noiva, na mãe que alerta pro vazio daquele ritual de aprisionamento, etc.
Eu do meu lado aprendendo a ser L[élê] ...
Na seqüência temos Justine no campo de golfe: da ponta de seus dedos, e do par de postes atrás dela, saem umas emanações elétricas, ou um fluido branco, o que talvez seja explicável cientificamente [nós não sabemos o que seja, se alguém puder ajudar...]. O que ouvimos dizer é que esse evento, de enxergar um fluido branco saindo das extremidades do corpo, é um sintoma comum da esquizofrenia. Na imagem, porém, esse dado sintomático, que seria só uma visão de Justine, aparece materializado nos postes atrás, o que invalida a idéia de que seja um sintoma dela [até porque os cabelos dela se levantam também, eletricamente carregados]. Então não seria como se essa ‘esquizofrenia’ viesse de fora? Como se ‘o mundo’ estivesse passando por uma espécie de distúrbio psíquico esquizóide, que o impede de enxergar a realidade dos fatos? É como se o universo de Justine, aquele dos rituais da vida rica, das relações familiares desgastadas, do trabalho rendoso e antiético na publicidade, viesse abaixo e mostrasse pra ela sua face delirante e fantasiosa. Tanto é assim que ela parece fascinada pelo fenômeno e, diferente da irmã, não tenta fugir no carro de golfe que aparece estacionado ao fundo.
À meia noite encarnarei no teu cadáver
A fantasia confessada por Justine à irmã durante a festa, se materializa na imagem seguinte, em que a noiva tenta arrastar fios de lã grossos enrolados em seu corpo. A cena se passa num gramado tendo um bosque de fundo, também ele enovelado por pedaços de lã cinza. Quem já teve um sonho em que não conseguia sair do lugar, ou tinha dificuldades pra se locomover, sabe os apuros que passa o ego [o eu] quando tem que lutar com forças instintivas de auto-proteção, ou com o assedio do supereu [o ideal] e do id [o desejo bruto, o cerne orgânico]. Diríamos que os fios de lã seriam o ‘supereu’ alertando, e fazendo piada, da falta de desejo do ‘eu’ de se casar. Ao mesmo tempo em que o ‘id’, o corpo da noiva, também representado pelo bosque ao fundo, se vê constrangido pelo vestido e pelos fios de lã, ambos opressores do eu [ego] em conflito. Essa contradição interna, de ter [ou se obrigar] a fazer algo sem vontade real de fazê-lo, é que constitui o quadro de depressão e ansiedade, epidêmicos em nossa época. De acordo com a ideologia do consumo reinante, as pessoas não devem se apegar a um objeto por muito tempo, preenchendo esse vazio por meio do consumo constante: a expectativa de felicidade por meio da troca de objetos de desejo, provoca uma escalada de ansiedade, e nunca se satisfaz. Já o desapego que se segue à posse da mercadoria ansiada, como que desconecta o sujeito do presente e das pessoas [coisas] em redor, resultando em depressão e isolamento.
Céus e terras passarão...
Depois de mais uma aproximação dos planetas [que então parecem ter o mesmo tamanho], vemos um sofá enquadrado numa sala de estar do casarão: através da janela, uma das árvores do jardim principal está em chamas. Aqui as especulações sobre o sentido da cena ficam um pouco mais difíceis por falta de elementos, mas se pensarmos nesse ponto da casa durante o filme, veremos que foi dessa janela que Claire viu o marido e o filho tirando fotos em celebração ao planeta que se aproxima. Foi daí também que ela viu Justine sentada no muro de pedra sozinha, olhando a paisagem com desalento. Aqui gostaríamos de reforçar a ligação entre o marido e o filho, que estariam celebrando, inconscientemente, o fim do mundo [da família] que se aproxima; enquanto Justine representaria o avesso deprimido da apatia de Claire, cujo mundo perfeito está a um passo do fim. A “sarça ardente”, representada pela árvore em chamas, seria esse momento de clarividência do negativo que se aproxima [separação-fim do mundo], e impõe a transformação violenta do presente. Se lembrarmos da narração bíblica, esse evento inaugura o pacto de luta [struggle] do povo judeu contra a escravidão.
Apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.
Segue-se a imagem de Justine vestida de noiva e sendo levada pela correnteza de um rio ou córrego, segurando um buquê de flores sobre o peito: a atriz parece estar com muito frio, e nos encara com o rosto contorcido pelo desconforto. A comparação com Ofélia, personagem da peça Hamlet de Shakespeare, aqui vem a calhar: como se sabe, na peça, a personagem de Ofélia se vê em meio aos conflitos de seu amado príncipe Hamlet e os anseios de vingança deste contra o tio usurpador do trono. Hamlet termina por assassinar o pai da moça que, tendo sido também renegada pelo príncipe, acaba enlouquecendo e se suicidando, atirando-se nas águas de um rio. O desfecho trágico das personagens femininas em Shakespeare é aqui retomado em chave paródica, como uma antecipação negativa que a noiva faz de seu próprio desamparo. Pois é da tradição milenar e patriarcal que a moça em idade de casar seja passada pra um noivo escolhido e aprovado não por ela, mas pela família: daí o frio na barriga se casar e descer “rio abaixo”, como quem se lança no destino sem certeza do que virá ou [como no caso de Ofélia] porque já não vê alternativa.
O encontro de dois mundos
Por fim, antes do encontro cataclísmico dos planetas, vemos Justine saindo do bosque e se aproximando do sobrinho, que usa sua adaga pra afiar um galho retilíneo, longo e pontiagudo: Justine também carrega uma lança feita a partir de um galho ou tronco de árvore, e vem da mata na direção do menino. Aqui podemos pensar mais uma vez na pintura de Bruegel, que mostra um grupo de caçadores cabisbaixos sobre a neve, voltando da caçada de mãos vazias. Eles também carregam lanças compridas enquanto saem da mata em direção à cidade. No caso do filme, porém, as lanças não serão utilizadas pra uma caçada, mas pra construir uma espécie de abrigo simbólico. Enquanto os caçadores na tela de Bruegel voltavam pra uma cidade complexa, de vida ativa, as três no filme experimentam umas espécie de regressão a formas primitivas de organização: é como se fizessem o caminho contrário ao dos caçadores, saindo da vida segura e rica da casa-grande, para o desamparo e a incerteza do campo aberto.
Nesse sentido é bastante positivo o gesto seguro e desencantado de Justine, abrindo mão da despedida blasé e classista proposta por Claire [vinho no terraço com música erudita], pra engajar o menino, e a si mesma, numa tarefa final em equipe: esse trabalho não alienado e independente quer se coloca acima do desespero e da apatia. Algo como a construção das cavernas, que o menino tanto pedia à tia, ou um erguer de trincheiras pra enfrentar um inimigo mais poderoso com dignidade. Aqui nós vemos que a aparente “lucidez” de Claire se deixava iludir pela proteção do marido e pelo papel que ela exercia na vida conjugal. Assim, com isso se iniciaria [se o mundo não estivesse acabando...] a fase depressiva de Claire, e pra Justine um recomeço autoconsciente e, por conseqüência, mais rico de experiências.
Conclusão?
Se ficar contento: é cachorro. E se ficar contenta: é cachorra...
Já a criança entre el’s 2 seria uma espécie de ser que estar por vir, cuja vida íntima deve se formar a partir dos escombros dos valores do mundo antigo, devastado pela tristeza de [não] saber o que será do amanhã.
Até!
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/agua.html
http://www.releituras.com/evandroaf_fu.asp
http://en.wikipedia.org/wiki/The_Mirror_(1975_film)
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pieter_Bruegel_o_velho
http://www.youtube.com/watch?v=gCTMM1iZ5Lw&oref=http%3A%2F%2Fwww.openculture.com%2F2010%2F07%2Ftarkovksy.html
http://www.youtube.com/watch?v=ZD3BRAiMrAw
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/antonio_gedeao/agua.html
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