terça-feira, 15 de maio de 2012

Ator Mentando [o] Ator Mentado



                                                              ...mutante ou comunista?



Transferência e Crise Política num troca-troca entre os filmes:
 Um Método Perigoso e Shame


Gostaríamos de comparar os filmes “Shame” de Steve McQueen e “Um método perigoso” de David Cronenberg: pegando carona na figura do ator Michael Fassbender, que interpreta os protagonistas em ambos os trabalhos. As desventuras sexuais do jovem Jung no passado, e a miséria espiritual do yuppie viciado em sexo no presente espelhariam, lado a lado, a crise da autoimagem nos indivíduos do sexo masculino, ou, a reação violenta ao reconhecimento de si como objeto de desejo de outro XY. A partir desse impasse se observa, em momentos históricos distintos, a intensificação violenta de certa “histeria masculina” ansiosa de afirmação: isso tanto na atualidade, com suas promessas de gozo irrestrito e sempre acessível; como no período anterior às Grandes Guerras, por volta de cem anos atrás que, ao invés, elogiava a moderação e o auto sacrifício... Por isso podemos ler nos filmes [e inscrito nos corpos dos atores] as coordenadas de uma ansiedade geral: ansiedade que vem na esteira de transformações sociais em negativo: protofascistas: que vão conduzindo a humanidade [antes como agora] a um horizonte de barbárie generalizada...


  
           

Se meu sonho fosse certo, eu não andava variado...
[The artist`s job is not succumb to despair...]

            Na cena inicial de Shame o personagem Brandon [Fassbender] troca olhares com uma moça no metrô: mas a cena aparentemente banal tem mais informações do que parece. Ela dá uma dimensão do enfoque “orgânico” que o diretor se propõe na construção de seus personagens. Por exemplo: a tal mulher sentada no banco oposto ao do protagonista não está sozinha no enquadramento que a limita, ao lado dela um jovem negro igualmente bonito é compreendido pela tela, e quase na mesma proporção. E mesmo quando temos um close do rosto dela, o perfil do rapaz ao fundo continua lá. Quando a câmera se volta para o rosto de Brandon notamos apenas uma tensão contida: talvez estivesse [conscientemente ou não] formulando as coordenadas que mudam a moça em fonte de desejo: ao imaginá-la como objeto de um outro [pornografia]. Por isso não podemos ler os pensamentos dele na expressão de seu rosto, pois eles estão cinicamente escondidos numa fachada voyeurística e redutora do outro [a moça loira e o rapaz negro].




Se pensamos no olhar constantemente pornográfico dele, entendemos os caminhos da racionalidade cínica e de seu destino trágico: o momento de autoquestionamento deixa de existir, porque toda satisfação é possível, o que coloca a felicidade [o horror] sempre a um passo daqui. Ao mesmo tempo o sujeito deve preservar sua identidade do assedio desagregador de tantas possibilidades de gozo, que se prostituem para a consciência a custa de suas relações afetivas: vampirizando a vida social e transformando as pessoas em objetos de uso e descarte [mercadoria sexo].  



 Já quando nossa atenção se volta pro rosto da mulher, dai temos uma variedade de expressões, com as marcas de um indivíduo que pensa com intensidade e se discute. Ela vai, em poucos segundos, da excitação da fantasia ao riso: culminando num cair em si decepcionado, e num princípio de tristeza funda... Provável que seja uma jovem frustrada com o noivado, e que se deixou levar pela ideia de uma aventura com o bonitão desconhecido: isso apenas pra se frustrar no minuto seguinte, reconhecendo que não seria capaz de viver a tal aventura [depressão]... Lembremos que ela vai aparecer mais uma vez no final da fita: agora vestindo adereços mais exagerados, com maquiagem pesada e cabelos tingidos: além de um grande anel de casamento. Ela quase que se inclina sobre ele, diferente do pudor angustiado do primeiro encontro... Também ela deve ter atravessado momentos de paixão e crise no período retratado, e voltado transformada pelos eventos.





Hang up the chick habbit [hang it up daddy]
[O homem que [se] amava as mulheres]


Mais tarde saberemos que o protagonista de Shame é um tipo excêntrico, de vida social quase nula: sempre a procura de novas parceiras e rodeado de pornografia. O elemento que vai trazer instabilidade pra esse transe de auto satisfação e vazio é a presença de sua irmã, Sissy [adjetivo para efeminado], que ele rejeita e quer afastar de si por razões desconhecidas pra nós [e pra ele]. Alias, sem querer moralizar as expectativas incestuosas que o filme usa como isca: tendemos a acreditar que os irmãos nunca foram amantes no sentido bíblico do termo, e vamos argumentar nisso mais adiante. Por hora um salto cem anos em recuo, pro começo do século passado.





- Oi, eu sou a Lilica!
- E eu o Perninha!
   - Não somos parentes!
[Nos momentos mais difíceis, você é o meu diva...]


O filme de Cronenberg começa com uma crise histérica de Sabina Spielrein, que está fora de controle e é conduzida de carruagem pra clínica onde ficara sob os cuidados de Jung. Como se sabe hoje, muitas mulheres daquele tempo sofriam terríveis crises nervosas por conta de conteúdos sexuais reprimidos: pensamentos que não podiam ser admitidos conscientemente por elas naquele contexto burguês ultraconservador. Assim, a convivência com um desejo “inadmissível” cindia a experiência que elas tinham da realidade, e do próprio corpo. Esse “eu” fragmentado era deixado a mercê do inconsciente caótico e da tirania do supereu [do ideal]. “Qualquer forma de humilhação”, ela dizia em meio à crise, se punindo e se satisfazendo ao mesmo tempo: e não é o mesmo movimento que se abate sobre o nosso protagonista yuppie cem anos no futuro [?], também ele submetido às piadas cruéis de um ideal social do gozo [supereu] que o impede de se reconhecer no mundo?

Vendo a moça naquele estado, Jung decide tentar a “cura pela conversa” que vinha sendo desenvolvida por Freud durante a formação da psicanálise. E talvez valha a pena apontar, em contraste com a desagregação espiritual da paciente, a atitude empertigada dos homens de ciência daquele tempo, mais especificamente Jung e Freud, que se entrincheiravam nos modos aristocráticos, reforçando e amainando o ego no uso de tabaco e licores, em profunda análise mútua: pra desbravar o novo campo de conhecimento “mantendo a distância correta”.



Sissy e Sabina
 Sujeito Sincero
 Sacrifício de Si 
[SS]

Voltando de uma casa noturna, o protagonista Brandon pensa que seu apartamento está sendo assaltado, mas encontra a irmã Sissy [Carey Mulligan: genial] no chuveiro. A partir dai descobrimos que era ela quem vinha ligando pra ele insistentemente, ao que ele se recusava a atender... Como com a presença dela o vício em sexo fica mais difícil de ser levado adiante, o choque de tê-la por perto evidencia pra B. o desespero de sua condição. Mais tarde descobriremos que ela está passando por apuros e precisa de um lugar pra ficar, ao que o irmão cede muito à contra gosto, e apenas por alguns dias... Sabemos pouco da vida anterior del`s: apenas que são a única família um do outro, que cresceram numa região periférica e mais pobre da cidade,  e que tiveram uma infância-adolescência difícil: em Sissy vemos marcas de violência auto infligida e um temperamento dado a explosões de humor e instabilidade. Já nele, em contraste, vemos um tipo reservado e metódico: com uma consciência narcisista da própria aparência, que beira a anorexia. Ainda que bem educado e num bom emprego, suas noções de vida social e relacionamentos estão congeladas num tipo de pré-adolescência paranoica: em que toda forma de intimidade vai sendo lentamente rejeitada...

Muitos motivos podem ter levado esses irmãos a desenvolverem personalidades tão complementares: seria um tipo de identificação cruzada, que se reforçou quando os dois tiveram que se apoiar contra a ameaça de terceiros? [a tal infância infeliz...] Assim a cena que se segue, em que S. canta New York, New York numa levada triste, deixa o irmão emocionado: talvez porque  el`s tenham dividido aquele sonho no passado, de estar ali  na cidade grande, independentes,  livres da opressão e com o futuro pela frente: como o personagem da letra.





Nostalgia is denial… denial of the painful present.
[You love your brother, don`t you? No, but I`m used to him…]

            O caso de Sabina é curioso, um exemplo típico de infância infeliz: não apenas pelos abusos incestuosos do pai, mas também pelo assedio da mãe ausente e supercompetitiva com relação a ela; que somados tiveram um efeito devastador sobre a moça... Como se vê, Sabina teve de atravessar regiões bem sombrias na vida antes de poder se “expressar” com os ataques histéricos e conseguir certa liberdade da opressão do lar. É importante frisar o papel crucial de Sabina Spielrein não só naquele período formativo da teoria psicanalítica, como no eixo que conduz o filme e as questões que ele propõe levantar. Pesa sobre ela a revelação de uma série de pormenores de sua vida pessoal: desde a encenação de sua doença nervosa e dos motivos dessa doença; até suas experiências sexuais mais intensas e libertárias, que se aproximariam, no limite, da desagregação do ‘eu’[e por isso devem ser tratadas com discrição]. Tanto é assim que perguntando o que as pessoas acharam do filme, ouvimos mais de uma vez críticas a interpretação da atriz Keira Knightley: que pra nós se saiu divinamente bem, considerando o papel difícil que lhe coube [de longe o mais complexo]. Refletindo um machismo de época, que transparece no enredo por fidelidade histórica, o filme acaba, ele também, sobrecarregando a figura da atriz: ela serve de exemplo para as patologias, motivo de intriga entre os heróis ilustres, e até de “escada” ou explicadora de conceitos psicanalíticos, que devem aparecer no enredo de alguma forma, e sobra pra ela explicar pra gente em tom artificioso...





I believe a woman is equal to a man in courage
[da parte de Eva ninguém não me leva: nós somos irmãos]

Após alguns confrontos com a irmã motivados por paranoia, B. num acesso joga fora toda sua pornografia: ele sai duas vezes com uma colega de trabalho, mas fracassa em se envolver com ela ou se livrar do vício em sexo [esse interlúdio com a colega é rico e cheio de sutilizas: mas estamos passando ao largo me muita coisa... ]. A partir dai ele engaja numa espiral de desventuras sexuais patéticas: que culmina com um ménage a trois pago, performado por uma espécie de zumbi do crack bonitão... Enquanto isso sua irmã Sissy atravessa crise semelhante, mas mais a fundo: já que sofreu um duplo abandono por parte de pessoas que amava, sendo uma delas o próprio irmão: aquele que a tinha ajudado tanto a superar a infância sofrida, e agora preferia não saber se ela estava viva ou morta: além de acusá-la de o estar seduzindo...  Ela termina por cortar os pulsos no banheiro do apartamento: esse gesto “ético”, cria do desespero, leva a fórmula cínica até seu limite. Ela finalmente “satisfaz” o desejo dos dois, que não a querem por perto enquanto levam vidas miseráveis; e o próprio desejo de se desagregar... Isso a partir dos dados que o filme nos apresenta: claro que há inúmeros outros motivos pra que ela tenha atentado contra a própria vida mais uma vez... Mas o enfoque do filme é enviesado, pois gira em torno de Brandon somente, e dá uma série de impressões distorcidas: o que nos obriga a fazer alguns malabarismos pra desencavar as informações.




O suicídio em longo prazo no qual B. engaja também seria “ético”, na medida em que seu vício reproduz um ideal de trabalho e consumo que é contra a empatia entre os sujeitos: que quer uma desidentificação cínica de todos pra com todos, como forma de castração política e ocultamento da exclusão e exploração crescentes... Que um sujeito chegue ao ponto de não se importar com a existência da única parenta viva [ainda que no filme não fique evidenciada nenhuma necessidade material da parte dela] fala dos limites de uma racionalidade cínica sem projeto: em que os sujeitos acompanham toda sorte de sofrimento alheio em tempo real, e recalcam a angústia gerada por esse conhecimento desfazendo desse outro: seja rindo dos indivíduos desumanizados pelo infortúnio, seja odiando-os ou discursando um amor exagerado e impotente por essas “vítimas” do tempo.



We all fear death and question our place in the universe
[As coisa sendo invisível não vem pra nos atentar]

            A vida sentimental de S. também anda aos pedaços: foi abandonada por alguém que parece amar muito e expulsa de casa: sem ter em quem se apoiar além do irmão amargo e histérico. Como no caso de Sabina citado acima, ainda pesa sobre ela [sobre a atriz e a personagem] a pecha de ser a louca que seduz o irmão e depois tenta se matar quando ele foge. Quando na verdade ela estava tentando reestabelecer um contato desembaraçado que el`s tinham antes [como duas irmãs?] e talvez salvá-lo daquele ciclo doentio que, ela sabe,  se originou do mesmo trauma que a aflige [e que nós outros não sabemos qual é]. E mesmo que tenham chegado a dar uns amassos escondidos quando criança: a atitude indignada dele depois do ocorrido [ou por conta de um desejo inconsciente pela irmã, caso não tenha acontecido nada] é uma forma mesquinha de se colocar num lugar inocente através da violência: de se proteger e colocar nela a culpa “por tudo que há de errado”...  




A irmã, única parenta viva, vai de carona no complexo de édipo: e o womanizer [men hunter?] quer esquecer que ela existe porque ela é um sinal de sua culpa: isso não por ser fisicamente desejada, mas por ser amada ao mesmo tempo [afeto dispensado à mãe e ao pai em momentos anteriores do desenvolvimento]... Sissy sabe que o irmão nunca permanece com uma mulher a ponto de conhecê-la bem, e também ela encontra a mesma resistência nos XY com que se relaciona: tendo sido posta pra fora de casa primeiro pelo namorado, depois pelo irmão... No caso do irmão ela encontra um vazio preocupante e autodestrutivo: tem que ver com a música New York New York de novo, if I can make it there - I`ll make it anywhere : como pedir socorro ao irmão pra que ambos se socorram nessas questões familiares: pra tentar contornar juntos a vida esvaziada na qual vão afundando...




The Golden Age Thinking
[Porque nós somos parentes também da parte de Adão]

            O caso de amor Jung – Sabina, que teve um desenlace com correspondências e ocultamentos envolvendo Freud, é visto como antiético pelos personagens envolvidos: mas não na opinião do paciente psicanalista Otto Gross: que aconselha Jung a se entregar ao seu desejo pela paciente [transferência], do contrário isso seria uma repressão sintomática de um impulso sexual normal e saudável. Claro que o Dr. Gross, com seus mecanismos neuróticos de defesa, não se sente inclinado a estabelecer relacionamentos: e vive uma escalada de ansiedade e de aprofundamento do vício, como nosso amigo B. no futuro...




            O contraponto positivado a essa figura instável de Gross seria o próprio Jung: um tipo estudioso, pai de família, avesso a boemia, talentoso. Mas que terminará por abandonar o solo firme da teoria da sexualidade: associando esse campo especulativo com a figura paterna de Freud, e com o amor frustrado por S... Freud, por seu turno, sabia que o campo do saber que se descortinava com seu estudo da sexualidade poderia simplesmente sumir do mapa por conta de preconceitos que, mais tarde, serão a ruína da Europa. Por isso se via na posição de fazer-se de figura paterna: pra defender o desenvolvimento daquele método e passar segurança às pessoas que poderiam contribuir com a investigação... Em muitos casos os melhores colaboradores de Freud foram tipos que haviam passado já, el`s próprios, por grande sofrimento psíquico: por isso era importante ter a figura estável e empertigada do “patriarca” e seu charuto: pra manter a unidade dos trabalhos e enfrentar a oposição regressiva... É claro que ele próprio não podia aceitar essa posição senão artificialmente, pois eram tempos em que a figura paterna sofria ataques a sua forma de todos os lados, graças ao desvelamento de sua construção social... A reafirmação dessa entidade patriarcal fragmentada deu origem às formas mais brutais de terrorismo de Estado...

Mas F.: porque cê não transa nunca? Cavalão!  
[Este sonho que eu tive pra muitos peguei contar]




Por isso o tal sonho no navio pra América, que Freud recusa dividir com Jung, pois segundo ele “ameaçaria sua autoridade”: talvez tenha que ver com esse medo de abandono material que ia rondando as consciências naquela época. Principalmente a de um velho médico judeu em um meio antissemita: que temia que os esforços de uma vida de trabalho viessem a ser desacreditados, e mesmo a desaparecer junto com ele. E seu herdeiro Jung, espécie de Isaac ariano rebelde rico, ia colocando as asinhas de fora para suprimi-lo, do mesmo modo que fizera ao romper com S. pra preservar seu modo de vida burguês e seu status... Que o sonho não revelado de Freud tenha tido qualquer coisa de masoquismo homoerótico catalisado na figura “satânica” de J., ganha corpo na cena em que os dois discutem a respeito de um faraó que ordenou o apagamento do nome de seu pai dos registros oficiais depois de tomar o poder: no meio da conversa F. se sente mal e cai: é amparado por Jung e diz em seus braços, num delírio semiconsciente : “como deve ser doce morrer...”  



Bom, pensando nos mil modos com que a vida íntima de Sabina Spielrein é esmiuçada na fita; e a forma “romântica e sutil” com que o sonho no navio pra América finalmente vem à tona [a desagregação do eu no ato sexual]: vemos aqui a formalização do impasse da autoimagem masculina num rompimento. No limite, quando as relações entre dois indivíduos chega a essa estágio de contradição, el`s  já não suportam reconhecer-se na imagem um do outro, e trabalham pelo desaparecimento mútuo. Quem tiver paciência pra ler o resumo do filme na W. [link no final] vai perceber que o boi de piranha pra travessia desse rio de afetos será Sabina: que além de tudo terá as ideias mais fecundas e modernas a partir dessa experiência, superando seus tutores de longe... Muito diferente da negação mística desesperada de J. ou do paternalismo culpado e castiço de F. : ambas as perspectivas enviesadas pela violência e pelo medo de se reconhecer como  objeto de desejo:  mesma crise que, cem anos no futuro, [mais doses cavalares de cinismo e desidentificação com o próximo], consome a personagem B... A crise da imagem paterna acima referida (entendendo esta identidade paterna como a do provedor, do chefe de família, da autoridade física sobre os demais membros do grupo, do transmissor de uma tradição, etc.), é na verdade a crise dos sujeitos em busca de identificação com esta figura. Assim, num ambiente social em que os posicionamentos ideológicos vão se estruturando de modo irreconciliável: a assunção dessa identidade masculino-paterna passa a carregar em si um projeto de reorganização dos modos de vida, seja através de sua reprodução policiada ou de sua revolução. E foi o que aconteceu na Primeira Guerra, depois na Segunda, depois...


 E depois? Conc(l)ussão...
[Me-lan-coliiia I’ll never let you go!]

            É o que se espera de qualquer agrupamento de XY, sejam eles presidiários, torcidas organizadas, militares, milicianos, grupos políticos ou profissionais, religiosos, estudantes, comunidades gay: a identificação entre esses sujeitos deve passar por uma estilização forte dos modos, e tem sempre de fundo uma misoginia violenta e acovardada. Esse laço edipiano entre os sujeitos, que reforçam as identidades pela oposição violenta ao outro: [re]produz o tipo de barbárie que toma conta quando o capitalismo, convulsionado por alguma crise [ou portador dela], “abandona” o mundo à própria sorte: e os sujeitos-mercadoria já não sabem porque se identificar entre si, senão ancorados nos preconceitos mais obscenos, ou em ideais de [auto] destruição ... Um vazio que Sabina combateu ao se mudar pra Rússia revolucionada; e do qual Sissy [antes do hecatombe] tenta se desembaraçar aproximando-se a qualquer custo do irmão traumatizado e em apuros: assim como ela... Talvez pra tentarem juntas a cura pela conversa.

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